Pra quem nunca subiu a Serra, vou dizer como é:
Ao sair de Bezerros que fica a cerca de 450 metros a cima do
nível do mar, se não estiver serenando geralmente está fazendo calor de suar.
Aí você vai dizer: “ mai pra quê bixiga ‘fulana’ me mandou trazer casaco”. Só que
quando vai subindo a Serra Negra, e ela tem mais de 700 metros a cima do nível
do mar, você vai vendo logo que a vegetação vai mudando, vemos menos xerófitas,
que são plantas bem adaptadas ao clima semiárido.Vai aparecendo árvores
maiores, aqui acolá um jardinzinho em um terreiro, e falando em jardim
lembramos flores e flores atraem abelhas, já as abelhas produzem mel e Serra
Negra é uma grande produtora de mel do estado de Pernambuco, mais uma coisa pra
você levar pra casa quando for embora.
Quando você chega à vila de serra
Negra avista logo a capela de são Francisco, a aí a coisa já é bem diferente, a
humidade do ar aumenta, é perceptível que é mais frio, se estiver chegando o
final da tarde, aí pronto, você vai ver pra quê levou o casaco. Vá andando que
aos poucos você começa a ouvir os instrumentos oficias do São João na Serra
Negra: sanfona, triângulo e zabumba. É isso mesmo, lá só toca forró
pé-de-serra. De vez em quando tem cabra mais afoito no meio tocando violão mas,
sem descaracterizar os ritmos genuinamente nordestinos. Você vai ver uma tenda
de circo e vai dizer: que gota é isso? É porque o forró acontece ali embaixo, na
proteção da tenda. Pode ir se achegando embaixo dela, pegue a dama ou o
cavalheiro e comece o ‘balancê’. Vai ter uma hora que o suor começa a descer
pelo cangote, aí você dá uma saidinha, se já tinha tirado o casaco vai dar logo
vontade de vestir de novo. Se escutar um pipoco, não corra não! É só o pelotão
de bacamarteiros com suas armas reluzentes fazendo evoluções atrás de uma banda
de pífano e chamando a atenção com seus tiros estrondosos, como se fazia a mais
de 100 anos em guerras memoráveis. Se chegar perto, não estranhe se tiver algo
branco no bigode de algum bacamarteiro, deve ser a farinha da charque do tira
gosto da pinga.
Voltando ao calor, é hora de
esfriar, tome um vinho com queijo assado ou, se der sorte, uma cachaça de
alambique com caldinho de sururu. Se a companhia for o(a) motorista da vez,
iluda ela com um chocolate quente e um pão de queijo. Sentem-se nos degraus do
anfiteatro e torçam pra ter o privilégio de ver na neblina chegando ao alto da
serra, é um fenômeno da natureza, parece uma avalanche de neve no sentido contrário.
Vem devagarinho, cobrindo a casa, o açude, as árvores. Ave Maria, é bonito
demais.
Mais cum pouco, um cabra acende a
fogueira, e olha né pequena não. A gente vai pra perto dela dizendo: vamos nos
esquentar. A essa altura, a urêia já esfriou, já está pedindo outra doze. A
fumaça incensa a roupa toda, mas quem se importa. Se até as menininhas vestidas
de graciosas matutas e seus pares matutinhos, estão ali soltando fogos:
chuvinhas e as bixiga lixa das cobrinhas que queimavam as pontas dos dedos da
gente.
De repente você escuta vindo lá
da tenda, aquela música que tocava na quadrilha quando você era criança. Vamos
simbora dançar essa, essa é a ‘boa’.
Quando cansar as canelas e quiser
ir embora, não se esqueça de passar na loja de suvenires e levar nem que seja
um chaveiro do papangu de Bezerros. Mas o carnaval do papangu é outra história...
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